21 de outubro de 2010
"Nesse dia eu estive pertinho e até pude ouvir os generais" - Soldado Fridolino Irineu Kretzer
Data de Nascimento: 28 de Junho de 1922
Endereço atual:
Rua 2.300, nº 297 – Edifício Bourbon de Nápolis – Apto. 704 – Centro -
CEP: 88.330-428 – Balneário de Camboriú-SC. – Telefone: (47) 3367-4367 –
e-mail: Danidoubrawa@hotmail.com
Pais: Norberto Kretzer e Ottilia Kretzer
Irmãos: Vendolino, Elza (única viva), Arnoldo e Elfrieda.
Estado civil: Viúvo de Gertrudes Kretzer
Filhos: Errol, José Norberto, Ivo, Rubens, Sérgio Luiz e Giovana
Netos: 13, bisnetos 5
“Minha
função na guerra era de organizar, levar e buscar correspondências por
toda região norte da Itália. Terminada a guerra, assisti naquele dia a rendição nazista e pude
até ouvir as vozes do nosso General Olympio Falnonière da Cunha bem
como do Comandante alemão por eu estar a uns dois metros deles”.
Dito pelo Soldado Fridolino Irineu Kretzer em relação a rendição da 148º Divisão de Infantaria alemã.
Sua infância:
Em casa com seus pais e irmãos, recebiam lotes de folhas de tabaco,
onde faziam a classificação e empacotamento, devolvendo à empresa, de
onde obtinham o sustento da casa.
Início da fase de adulto:
Com 18 anos de idade ingressou no “Tiro de Guerra”, jurisdição militar
do Exército Brasileiro que oferecia aos seus integrantes toda orientação
necessária para exercer uma vida de cidadão e ao mesmo tempo cumprir
com os deveres da Pátria. Permanecendo nesse exercício por um ano,
recebeu a “baixa”, contemplado com a Carteira de Reservista de Segunda
Categoria. Sabe-se que na época, quem ingressava no Quartel do Exército,
deveria permanecer até completar os 23 anos de idade, embora o
alistamento era obrigatório com apenas 21 anos. E o que mais desejava,
ao sair do Tiro de Guerra, era voltar à vida livre, pois queria buscar a
profissionalização. Portanto, ao sair do Tiro de Guerra, começou a
trabalhar como tecelão na Tecelagem e Malharia Indaial. Mas sua
liberdade durou pouco. Estando em casa, era Dezembro de 1942 quando o
Exército Brasileiro lhe entregou uma carta, solicitando sua apresentação
na unidade militar de Blumenau.
Soldado da FEB:
A carta que recebera, tratava-se de um Ofício de Convocação, do
Exército Brasileiro, da 16ª Circunscrição de Recrutamento, de
Florianópolis, mencionando a sua convocação para se apresentar no 32°
Batalhão de Caçadores, de Blumenau ( atual 23° RI). Apresentando-se em
1943, mediante seu Certificado de Reservista foi recrutado como soldado,
lotado no 3° Pelotão, da 3ª Companhia, sob registro n° 777, comandado
pelo Capitão Ernani Moreira Castro. Lá, não era aceita nenhuma
justificativa por falhas. Era rigoroso. Não era permitido sair do
Quartel. Não se conseguia liberação nem para visitar os pais. Caso algum
soldado saísse do Quartel, a punição era severa com cadeia interna. Ali
no 32° BC permaneceu por quatorze meses, sob intensos e puxados
treinamentos. Lembra-se que num determinado dia de abril de 1944, estava
fazendo manobras de guerra com sua Companhia, bem no interior de
Blumenau, perto da região do Morro do Spitzcopf, quando apareceu, para
sua surpresa um Mensageiro do Exército, portando um radiograma (tipo
telegrama), no qual constava os seguintes dizeres: - “3ª Cia regressar
Quartel urgente pt capitão entrar contato comando pt Ass Coronel chefe
Recrutamento pt”. O corneteiro deu o toque de “companhia reunir” para
regresso ao Quartel. Foram tempos pesados que estiveram reservados para
os 956 soldados do Estado de Santa Catarina que foram para a Segunda
Guerra. Ficou-se sabendo do conflito na Europa e de ataques de aviões
numa ilha no Pacífico, chamada de Pearl Harbor, mas, até ai, ninguém
comentava nada sobre embarque para a guerra. Para os soldados, apesar do
temor, acreditavam de que a guerra lá já havia acabado e que a
possibilidade de irem para a guerra iria acabar em nada. De repente a
surpresa. Numa formatura vespertina, como era de costume, a Companhia se
reunia e o Oficial de Dia, responsável pelas comunicações das 24 horas,
veio proceder a chamada. Citava o número do soldado e esse por sua vez
respondia seu nome. Concluída a chamada, passou para outro Sargento
secretário ler o Boletim que constava o seguinte teor: “Os soldados que
passaram de efetivos para excedentes, devem ficar atentos, pois o
deslocamento da tropa está perto de acontecer”. E aconteceu. Dois dias
após a leitura do Boletim, o Comandante da Companhia reuniu todos os
soldados que foram selecionados e, desta forma já estava tudo acertado
para o embarque. E com gesto de carinho para com seus subalternos, esse
Comandante improvisou uma mensagem de despedida, desejando a todos muito
sucesso nos dias difíceis que iriam enfrentar. Disse ainda que se
sentia orgulhoso de poder ter comandado soldados disciplinados e que
assim deveriam continuar. Falou ainda, se o mundo obedecesse à
disciplina, não haveria guerra. O ano era 1944. O soldado Fridolino
contava com seus 23 anos de idade, aguardando a partida para além mar.
Diante desse dilema, imaginou o que estariam pensando seus pais sobre
essa situação? Isso não se tratava de uma viagem para negócios nem para
turismo. Estava escalado para ir a uma guerra, lutar e defender-se da
morte. Mas, foi para isso que estava destinado. Seus pais, bem como seus
irmãos, sabendo que iria partir, ficaram sem o que fazer, contando com a
proteção divina e esperando que houvesse alguma mudança de ordem. Mas,
houve um momento antes de partir em que recebeu licença rápida para ir
em casa despedir-se. Foi muito triste. Todos choraram muito. Havia
sentido o choque de que realmente estava indo para a Segunda Guerra
Mundial para lutar e executar nossos semelhantes, com armas de fogo.
Muitos conhecidos da região e descendentes de alemães disseram para que
ele não matasse os seus parentes germânicos. Foi então que no início do
ano de 1944, na madrugada de uma sexta-feira que se fez a amarga
despedida dos soldados que ficariam no Quartel de Blumenau. O
deslocamento deu-se embarcados em caminhão da Viação Catarinense,
sentados em bancos improvisados, de madeira, até a Estação Ferroviária
de Jaraguá do Sul, chegando por volta das 7 horas da manhã. Ali estavam
reunidos soldados de várias regiões de onde o contingente embarcou no
trem “Maria Fumaça”, rumo à Curitiba. Na viagem, percebia-se que estavam
todos se afastando cada vez mais dos confortados lares e se sentia no
peito uma forte dor, o que nada mais era a saudades fazendo pressão no
coração. Ao longo do caminho, outras unidades militares aguardavam com o
“carro de cozinha“, onde abasteciam com uma caprichada feijoada. Todos
estavam com muita fome, pois a ração que foi levada de Blumenau era um
saquinho de farofa com frango que o Capitão havia dado como provisão e
isto todos já haviam consumido. O estomago estava querendo sair pela
boca e essa feijoada foi o sossego.
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| O soldado Fridolino Irineu kretzer em Roma com aompanheiros |
Durante
a viagem procurava-se descontração e o que mais se fazia era cantar.
Uma das músicas que se cantava era do cantor Vicente Celestino, cuja
letra dizia: “Tornei-me um ébrio...” Vez por outra, o apito do trem
interrompia a cantoria, pois parecia que o maquinista queria
compartilhar da alegria e tristeza ao mesmo tempo. Ele sabia bem que
estava transportando tropas militares, com destino à guerra. O tom da
buzina parecia estar saudando como uma mensagem que dizia: “Sigam com fé
que eu aqui fico orando por vocês – Adeus.” Chegando em Curitiba, os
soldados foram levados por viaturas militares até o 15° Batalhão de
Caçadores (hoje 20° Batalhão de Infantaria Blindados – Bairro
Bacacheri), onde permaneceram por duas semanas. Partindo dali, seguiu-se
rumo ao Quartel do 6° Regimento de Infantaria, em Caçapava, São Paulo.
Lá foram incorporados à esta unidade militar por alguns meses. Durante
três meses, receberam puxados treinamentos. Lá o Soldado Fridolino foi
integrado na Companhia de Metralhadoras, treinando num Obus 105 mm, na
função de atirador. Num certo dia, os soldados foram convocados para
seguir através de trem até o Rio de Janeiro, onde participaram de um
desfile cívico na Avenida Getúlio Vargas e depois regressaram à
Caçapava, para continuar os treinamentos. Em breve, veio a notícia de
que todos os soldados deveriam embarcar novamente ao Rio de Janeiro.
Lotaram o trem e lá no Rio, todos ficaram instalados na Vila Militar por
bastante tempo. Certa ocasião, veio um Capitão à procura do soldado
Fridolino, e logo foi transferido para a função de “estafeta”, cuja
atividade era de operar todo serviço de correspondência no Quartel
General. Essa tarefa fez muitas vezes ainda na região carioca. Antes de
embarcar para a Itália, o soldado Fridolino conseguiu nova licença de 10
dias para vir à Indaial para a despedida em definitivo. Chegando a hora
de partida à guerra, o passaporte estava pronto. Havia chegada a hora
do embarque. De trem, os soldados foram levados até o Porto do Rio, onde
embarcaram no navio americano US. General Meigs, o qual partiu em 23 de
Novembro de 1944, levando o 4° Escalão, com 4.695 integrantes até o
Porto de Nápoles(Itália). Nesta viagem de 15 dias tiveram mais descanso
do que atividades. Como refeição, na ida, eram apenas duas apenas a cada
dia – café e janta. O processo era de racionamento como forma de
precaução, caso devessem ficar no mar por mais tempo. Chegando em
Nápoles, todos foram transferidos para outras embarcações (lanchas
grandes), sendo levados até o Porto de Livorno e de lá para o
acampamento, onde foram incorporados ao 4º Corpo, do 5º Exército
Americano. Chegando lá, o soldado Fridolino continuou na função de
“estafeta”, organizando, levando e buscando correspondências por todas
as regiões italianas onde haviam postos militares brasileiros,
americanos e ingleses. Apesar da hostilidade da guerra, houve bons e
maus momentos. O que mais sensibilizou os brasileiros foi a miséria que o
povo civil italiano sofria. Algumas vezes os brasileiros acabavam
cedendo de suas alimentações aos esfomeados.
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| Fridolino Kretzer no 6º Regimento de Infantaria de Caçapava - SP |
Os
soldados brasileiros acabaram por receber dos americanos novas fardas,
armamento, munições, rações e treinamentos intensivos. A baixa
temperatura foi um dos maiores inimigos dos soldados brasileiros vindos
de um clima tropical. Fatos marcantes foram de se ver soldados
gravemente feridos e outros mortos. Um dos fatos interessantes foi de
que o soldado Fridolino teve a oportunidade de estar apenas 3 metros de
distância dos oficiais brasileiros e alemães, no momento em que o
Tenente-General Otto Fretter-Pico(comandante nazista) oficialmente fazia
a rendição incondicional da 148ª Divisão alemã. Comenta que pode até
ouvir os detalhes de suas conversas. Na Itália, após a guerra ter
terminada, houve um desfile da Vitória Brasileira, ocasião em que os
saudosos soldados foram aplaudidos pelo povo italiano que margeavam as
ruas. A volta aconteceu em contingentes escalonados, quase da mesma
forma como foi a ida. O 4º Escalão em que estava o soldado Fridolino
ancorou no Porto do Rio de Janeiro em 19 de Setembro de 1945. Cada
Escalão que chegava no Rio, apresentava-se em desfile ao público e eram
aclamados como verdadeiros Heróis nacionais. Como se sabe, a FEB foi
extinta ainda na Itália. Chegando todos no Brasil, foram feitos os
acertos finais com cada soldado e consequentemente o retorno para casa
em definitivo.
Acabou a guerra. A vida continuava:
Retornando a terra natal, reintegrou-se na Tecelagem e Malharia Indaial.
Casou-se, teve seis filhos. Teve um único emprego no qual permaneceu
por 42 anos em seu ofício como Mestre de Turma. Durante muitos anos vem
participando com seus colegas Veteranos da FEB em desfile cívico,
continuando a glória que trouxeram para o Brasil. Mais tarde Fridolino
aposentou-se, permanecendo ainda em Indaial por alguns anos, vindo morar
mais tarde em Jaraguá do Sul, próximo de seus filhos. Em 1997 ficou
viúvo. Assim, ficou em sua casa, conduzindo sua vida por 11 anos em
Jaraguá do Sul , quando em Julho de 2009, achou conveniente residir com
sua filha em Balneário de Camboriú, onde encontra-se em gozo de boa vida
que merece.
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| As armas retidas após a rendição incondicional da Alemanha |
Os méritos militares: Fridolino
soube conduzir sua vida com prudência, pois a guerra lhe havia ofertado
lições de como lidar com as dificuldades. A partir de 1967, com a
aprovação de lei federal, os Pracinhas da FEB puderam requerer benefício
que veio lhes trazer mais conforto para seus ideais. Apesar de na época
se passarem mais de vinte anos, ajudou na construção da vida após a
guerra. E como o “além mar” os tornou Heróis Nacionais, desde 1963
existe a Associação Nacional da FEB no Brasil. E em todos os desfiles de
7 de Setembro, a maioria dos Veteranos da FEB sempre se fazem
presentes, exibindo ao público o galardão de bravos soldados que
trouxeram a democracia de volta ao país. Já faz 65 anos que a Segunda
Guerra terminou e ainda hoje, poucos dos que ainda vivem reúnem
condições para continuar levando suas paixões de guerreiros aos olhos do
povo brasileiro nessas ocasiões. Fridolino é um guerreiro desses, com
seus 88 anos de idade, mostra-se orgulhoso e participativo nos trabalhos
reservados à história da FEB.
Painel
Soldado Fridolino Irineu Kretzer
"Minha
Função na guerra era de organizar, buscar e entregar correspondências
em todos os postos militares da região norte da Itália.Esta tarefa
chamava-se "estafeta". Para o serviço me deram um Jeep Willys MB
Americano. Eu tive muito medo de ser surpreendido pelos italianos
"carabineiros" que eram Fasci/Nazistas e podiam me atacar, roubar a
farda para fazer sabotagens. Tive medo também de ataques aéreos e
artilharia inimiga. As orações e pensar na família me deram coragem e
tudo deu certo.".
Carta de Gratidão
Carta de gratidão de Ivo Kretzer ao pai, Fridolino Kretzer
Recordo-me
da minha infância sobre as histórias que meu pai contava à seus amigos,
o que me fascinava muito. A imaginação que eu fabricava pelos fatos que
ouvia de suas aventuras, levava-me a viver sonhos que pareciam
realidades. Suas narrações sobre a guerra acabaram por me inspirar à
aviação. Isso aconteceu quando eu tinha apenas doze anos quando,
permanecendo por perto e muito atento, ouvia a conversa que meu pai
tinha com um grupo de vizinhos que o visitaram e ele contou ter visto um
grande esquadrão de aviões Boeing B-17 passarem sobre sua cabeça no
momento em que ele estava em um acampamento inglês, onde havia levado
correspondências. Com o que ouvi criei um fascínio por aviões e o meu
entretenimento começou com um pequeno avião, feito de madeira que
fabriquei e, brincando, simulava aquela passagem tão dramática. Hoje
tenho como hobby colecionar réplicas de aviões da Segunda Guerra. A meu
pai, devo toda honra, além de carinho e respeito. Ele merece nossos
aplausos pela sua coragem, determinação, disciplina e patriotismo, pois a
ele confere o caráter de um cidadão brasileiro e pai de família
brilhante que é. O meu apego às histórias da FEB permaneceu na alma e
desde o ano 2002 estou integrado e venho com muita vocação, junto com a
Fundação Cultural de Jaraguá do Sul liderando a continuidade das
memórias da FEB naquela comunidade. Como brasileiro e filho de um Herói
de Guerra, não limitarei esforços para dedicar-me a essa causa. Sinto-me
honrado por ter um pai que ajudou a recompor a democracia na terra de
nosso querido Brasil.
A ele a minha gratidão.
Ivo Kretzer
ANVFEB
Secretário Executivo da
Seção Regional – Jaraguá do Sul – SC
Galeria de Fotos
(Clique nas fotos para visualizar no tamanho original)
Observação:
Nas fotos da época da guerra em que o Soldado Fridolino Irineu Kretzer
aparece junto de mais pessoas, ele é apontado com uma seta.










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