A “MACONHA” e a CONDUÇÃO de VEÍCULOS...
1ª PARTE
1)
A origem
do NOME
Uma das teorias sobre o
nome "maconha" é que ele veio de um idioma falado pelos escravos de
Angola, o “quimbundo” (ma'kaña que significa algo como "erva
santa")...
...mas até o
século XIX, era mais usual chamar a erva aqui no Brasil de “fumo-de-angola”
(devido ao local de origem) ou de “diamba”, nome também quimbundo que significa
“erva que se fuma”.
Outros adeptos de
“concorrência extrema” defendem de que a palavra é um “anagrama” da
palavra “cânhamo”- que é uma das espécies da “planta”- (assim como a palavra
“amor” é um anagrama da palavra “roma”).
Já a origem e o
significado em países latino-americanos e nos EUA da “droga” ser denominada de
“marijuana” ou “marihuana”, apresenta uma desoladora severidade...
...dizem, que foi uma
palavra criada nos EUA para que soasse bem hispânico, permitindo a associação
direta entre a droga e os imigrantes mexicanos, cuja presença era bastante
indigesta na sociedade americana da época (década de 1920).
Os mexicanos é que trouxeram
a “droga” para os EUA, e fumar era a maneira como eles tinham para relaxar no
fim do dia (hábito condenada pela sociedade da época).
Também corriam boatos
de que a “droga” ofertava “força sobre humana” aos mexicanos o que seria uma
vantagem injusta na disputa pelos escassos empregos da época...
...e a isso se
somavam insinuações de que a “droga” induzia ao sexo promíscuo (muitos
mexicanos talvez tivessem mais parceiros que um americano puritano médio, mas
certamente isso não tinha nada a ver com a “droga”)...
...e
induzia também ao crime (já que com a crise a criminalidade tinha aumentado
entre os mexicanos pobres)...
...e assim, tal qual
ideias que são lançadas ao público como espécie de alimento (similar a quando
se joga osso para cachorro),
“elas” prosperam.
2) Um pouco de HISTÓRIA
Gostaria de fazer um ajuste de
contas com o passado e dizer que não é de hoje que esta “droga” é usada pelo
homem.
O primeiro registro do contato entre
o “Homo sapiens” e a “planta” é de 6 000 anos atrás.
(Foi encontrada a marca de uma
corda de “cânhamo” – fibra extraída de uma das espécies da planta - impressa em
cacos de barro, na China)
Foi à primeira “planta” cultivada
pelo homem com usos não alimentícios.
(Acredita-se que tenha sido usada
também para fins recreativos, medicinais e religiosos)
Em 2.800 antes de Cristo ela já
era cultivada pelos chineses para extração de fibra (para a manufatura de
tecidos).
Também no “PEN-Ts’AO CHING” (livro
de farmacopeia mais antigo do mundo – de 2700 aC) há indicações no uso do óleo
de “cânhamo para diversos males como dores reumáticas, constipação intestinal,
doenças do sistema reprodutivo feminino, rachaduras nos mamilos, a malária e
outros.
Porém noutras culturas, foram as
propriedades “inebriantes” da “planta” que tiveram destaque. Na medicina
Ayurvédica da Índia, a “droga” ainda
hoje é recomendada como hipnótico, analgésico, em rituais religiosos e como
espasmolítico (prevenção de espasmos no estômago, intestino ou
bexiga).
Pela mitologia indiana, a
“planta” era a comida favorita do deus SHIVA.
Tomar “bhang” seria uma forma de
entrar em comunhão com a divindade.
O “bhank” é um chá da “droga” com leite, consumida em celebrações
anuais acompanhado de uma atmosfera meio delirante e caótica.
Na tradição “Mahayana” do
budismo, fala-se que antes de Buda alcançar a iluminação, ficou seis dias comendo apenas uma semente da
“droga” por dia e nada mais.
A fama da “planta” como
medicamento, nos meados do II milênio da era cristã, ganhou também o Oriente Médio.
Assim, talvez devido à proibição
do álcool pelo Al corão , o uso de “planta”
foi na época muito difundido entre os muçulmanos, inclusive como medicamento.
Durante toda a Idade Média, era
comum seu consumo em terras árabes (no Iraque do século XV, os epiléticos eram
tratados com a planta).
Também no século XV,
a planta foi utilizada nas “telas” e estava presente nas “tintas” a base do
óleo de “cânhamo” que foram utilizados pelos gênios da Renascença...
...também nesta época
a planta transformou-se no principal produto agrícola da Europa.
O “óleo de cânhamo” -
depois do óleo de baleia - era muito utilizado na iluminação pública.
(No Brasil foi
utilizado em cidades de Santa Catarina e do Pará)...
As caravelas usadas na descoberta
da América tinham suas “velas” feitas a partir do “cânhamo”...
...assim como as “cordas” das
velas, as “redes de pesca”,
e muitas vestimentas usadas
pelos marinheiros.
(Havia 80 toneladas de cânhamo no
navio de Cristóvão Colombo)
Na renascença a “planta”
tornou-se um dos principais produtos agrícolas europeus, sendo pouco usada como entorpecente.
Johannes Gutemberg, inventor e gráfico alemão, teve sua maior e mais
famosa obra, “A Bíblia de Gutemberg”
- a primeira Bíblia impressa - feita com papel de cânhamo.
No entanto com a "Santa Inquisição", os católicos
passaram a condenar o uso medicinal da “erva” - feita por "bruxas" -
que por sua vez, muitas foram queimadas por usarem a planta na criação de
remédios.
(Uma atitude farpada e
pontiaguda)
Em 1680 a coroa Inglesa
invadiu a Jamaica e levou para lá
uma enorme quantidade de escravos africanos...
...o objetivo dos ingleses
era transformar a ilha em uma imensa plantação de “drogas”, para garantir a sua
autossuficiência em linho “cânhamo”.
Com o passar do tempo à
droga tornou-se uma questão de identidade na Jamaica colonizada originando uma
ferida vulnerável até hoje para aquele país.
Na China em 1737 a “planta”
é pela 1ª vez usada como tratamento medicinal para dores provocadas por
“reumatismo” e “gota”.
Napoleão Bonaparte tentou liquidar a marinha
britânica, barrando a chegada do “cânhamo” russo para o abastecimento dos
ingleses durante a guerra Napoleônica (entre 1803 e 1815).
Coube a Napoleão promulgar a
primeira lei do mundo moderno proibindo a plantação da “droga”.
Os europeus começaram a usar a “planta” a
partir deste momento para finalidades recreacionais.
(Esta marginalidade escandalizou
os tradicionais levando de arrasto adeptos e admiradores)
Ambos, George Washington (foi o primeiro Presidente dos Estados Unidos, de 1789
a1797) e Thomas
Jefferson (foi o terceiro presidente
dos Estados Unidos, de 1801 a 1809) eram donos
de plantações da “droga”...
...Jefferson redigiu a “Declaração de Independência” dos
Estados Unidos (1787) em papel feito do “cânhamo”.
Estima-se que, no final do século
passado, até 90% do papel usado no mundo provinha do “cânhamo”.
...e também havia a possibilidade
de se pagar “impostos” com cânhamo.
(Parecendo troca de trivialidades
líricas entre sonhadores)
Nos Estados Unidos, a “droga”
tornou-se muito popular entre músicos de jazz
na década de 20.
(Afirmavam ficar mais criativos
depois de fumar)
...e tanto o estilo de música
como a maconha eram proibidos pois eram considerados hábitos “subculturais”...
... e assim, a “marihuana” jamais
cruzou as fronteiras da aceitação.
Os primeiros jeans Levis também foram feitos da fibra da planta...
...mas isto passou “desconhecido”
e “despercebido” de doutrinas contrárias e de interesses antagônicos.
A FORD (montadora de veículos) desenvolveu na época (1948),
combustíveis e plásticos feitos a partir do óleo de semente da “planta”...
As plantações da “droga”
começaram a tomar áreas imensas na Europa e nos EUA.
Em 1940 nos EUA relatórios e documentos
mostram que a “droga” é muito menos perigosa do que se suspeitava anteriormente,
provando nenhuma relação entre o seu uso e a violência, estupro, insanidade
mental e vício.
(Mas não passou de esforços bem
frágeis, insignificantes, para disfarçar um consenso que não pode ser mais
revertido)
A “planta” foi usada como “soro da verdade” pelos EUA durante a 2ª
Guerra Mundial...
...a droga era misturada nos
cigarros comuns e fornecida aos prisioneiros para que os tornassem mais
sinceros.
(Conseguiu-se somente comprovar
um desastroso fracasso)
A partir do fim da 2ª Guerra
Mundial os EUA criou um lema no qual se você fumasse “maconha” teria grandes
tendências comunistas, o que poderia
derrubar o governo.
Em 1961 Harry Jacob Anslinger (Comissário
do serviço de Narcóticos dos Estados Unidos)
garantiu um tratado internacional que proibia a “maconha” em 160 países.
(Foi a verdadeira exportação
das leis “antidroga” americana para o mundo todo).
Dizem que Anslinger não
tinha interesses somente sociais, pois:
1º) era casado com a sobrinha do
dono da gigante petrolífera GULF OIL
uma das principais investidoras da igualmente gigante DU PONT que segundo alguns, foi uma das maiores responsáveis por
orquestrar a destruição da indústria do “cânhamo”.
Nos anos “20”, a empresa estava
desenvolvendo vários produtos a partir do petróleo (aditivos para combustíveis,
medicamentos, plásticos, fibras sintéticas como o “náilon” e processos químicos
para a fabricação de “papel” feito da “madeira”).
Esses produtos da DU PONT tinham uma coisa em comum que
era a de disputar o mercado com o “cânhamo” (cuja fibra e o óleo da semente
eram bem conhecidos).
2º) um outro aliado de Anslinger
foi William Randolph Hearst, dono de
uma imensa rede de jornais que sabidamente odiava mexicanos (durante a
Revolução Mexicana de 1910, as tropas de PANCHO
VILLA – que aliás fazia uso frequente de maconha – desapropriaram uma
enorme propriedade sua).
Hearst também era dono de terras
e as usava para plantar eucaliptos e outras árvores para produzir papel.
Hearst iniciou também, nos anos
1930, uma intensa campanha contra a maconha através de publicações em seus
jornais...
Foi Hearst que popularizou o nome
MARIJUANA/MARIHUANA (ele queria uma
palavra que soasse bem hispânica, para permitir a associação direta entre a
droga e os mexicanos).
O consumo da maconha atingiu o
apogeu no mundo nos anos 1960...
...o Rock o festival de Woodstock,
e o avanço do comportamento hippie colaboraram
muito para que a maconha se espalhasse pelos Estados Unidos e posteriormente
fosse expandindo para o mundo todo.
Em 1962, no governo do 35º
presidente americano
John Fitzgerald Kennedy, Anslinger foi demitido (depois
de 32 anos no poder) e um grupo formado para analisar os efeitos da droga concluiu
que os riscos proclamados estavam sendo exagerados e que a tese de que ela
levava a “drogas mais pesadas” era um equívoco.
(Mas novamente o estudo produziu efeitos pouco
salutares na opinião pública)
Em 1972 o
“Relatório Shafer” recomendou que o uso pessoal da “marijuana” fosse descriminalizado (deixa de ser crime).
O pedido foi recusado pelo
presidente Richard Milhous Nixon. No entanto 11 estados descriminalizaram a “marijuana” e quase todos
os outros diminuíram as punições ligadas à “droga”.
(Dizem, que o fato de Nixon declarar guerra às drogas,
tinha muito pouco a ver com as drogas e muito com o fato da sua reeleição a
presidência, pois desejava alguns votos extras)
A “erva” era bastante acessível
aos soldados no Vietnã que ao
retornarem da guerra trouxeram consigo o hábito de fumar a “droga”.
Nos EUA, o dia 20 de abril é
comemorado como o Weed Day, ou “Dia
da Erva”, em português.
A data foi criada por
estudantes da San Rafael High School em 1971, e acabou evoluindo para um
feriado da “contracultura”, sendo dia para manifestações e eventos favoráveis à
legalização.
É desta data que surgiu a brincadeira
de 4:20, que inunda por vezes o
“Facebook” atualmente: é uma referência à data 4/20 (nos EUA o mês vem antes do
dia na data)...
...outra versão é que os
universitários tem hora certa para fumar maconha; às 4h20min da tarde.
Em 1990 o estado da
Califórnia/EUA (foi o 1º estado) legalizou o uso da “cannabis medicinal”, em pacientes que sofrem de várias doenças.
(Um exemplo é a AIDS ou SIDA
em inglês - Sindrome de ImunoDeficiência Adquirida).
O senso comum é que de uma
maneira ou de outra, a “cannabis” atravessou toda a história da Humanidade,
assumindo a responsabilidade de ser um dos poucos assuntos que ainda dão margem
a tantos mitos, tanta deturpação, tanta mentira e tanta desinformação.
Aguarde a 2ª PARTE...
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ACésarVeiga
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