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A UNIÃO EUROPEIA ABANDONADA PELA INGLATERRA
Paulo Roberto Campos
O
tema em epígrafe, tão noticiado no dia de hoje — e tão chorado
copiosamente pelas esquerdas do mundo inteiro —, ganha maior dimensão se
considerado na perspectiva da análise feita por Plinio Corrêa de
Oliveira no artigo A Federação Europeia à luz da doutrina católica, publicado na revista Catolicismo em fevereiro de 1952. Alguns trechos são transcritos abaixo entre aspas.
Planejava-se,
já naqueles idos, a formação de uma Federação Europeia, destinada a ser
uma espécie de Estados Unidos da Europa ou algo nos moldes da atual
União Europeia (UE). “Um acontecimento imenso” — comentava então o Prof.
Plinio —, pois “são nações que desaparecem depois de terem enchido o
mundo e a História com a irradiação de sua glória”.
A retirada da Inglaterra da UE mediante o recente plebiscito popular —
que contou com 51,9% contra a permanência na UE e 48,1% a favor — pode
ter sido o meio escolhido pelo país para ver-se livre das tirânicas
imposições da UE, evitando assim perder suas características, suas tão
belas tradições e a enorme riqueza que suas artes e seus valores
peculiares encerram.
No mencionado artigo, o autor prognosticava que a constituição de um só
bloco de nações europeias poderia padecer subjugado por ferrenhas mãos
de burocratas que ditariam como cada país deveria ou não proceder.
Vejamos.
“Uma
Federação que procura passar a esponja sobre tantos séculos de
História, evidentemente não pode ser construída só por um grupo de
políticos e homens de gabinete, mediante a assinatura de um tratado. […]
“Assim, pois, resumindo nossa impressão, tudo indica que, exceto uma
guerra, nenhum fato natural deterá a constituição da Federação. Tanto
mais quanto seus dirigentes já declararam oficialmente que saberão andar
passo a passo, montando aos poucos as peças do novo organismo, e
começando judiciosamente pelos alicerces”.
Plinio
Corrêa de Oliveira, no mesmo texto, trata do perigo que representaria
uma Federação Europeia como um plano marxista para a implantação de uma
República Universal, cujo governo visaria eliminar as desigualdades
justas e harmônicas dos povos, assim como a beleza que há nas sadias
características e costumes próprios da alma e da cultura de cada região.
Para se constituir tal República Universal, seus dirigentes teriam
também o objetivo de fundir as nações num amálgama amorfo e igualitário e suprimir os governos próprios de cada país, bem como suas fronteiras.
Por isso, certamente, a maioria dos britânicos, receando perder algo de sua soberania, já deram “tchau” para a UE.

“Antes de tudo devemos fazer sentir que a Igreja é contrária ao
desaparecimento de tantas nações para constituir um só todo. Cada nação
pode e deve manter-se, dentro de uma estrutura supranacional, viva e
definida, com seus limites, seu território, seu governo, sua língua,
seus costumes, sua lei, sua índole própria. […]
“A
Alemanha é uma nação, a França outra, a Itália outra. Se alguém as
quisesse fundir como quem joga num cadinho joias de finíssimo valor,
para as transformar num maciço lingote de ouro, inexpressivo, anguloso,
vulgar, certamente não agiria segundo as vistas de Deus, que criou uma
ordem natural na qual a nação é uma realidade indestrutível.
“Assim,
pois, se a Federação Europeia tomar este caminho, será mais um mal, do
que um bem. Deve ela ser a protetora das independências nacionais e não a
hidra devoradora das nações.
“As
autoridades federais devem existir para suprir a ação dos governos
nacionais em certos assuntos de interesse supranacional; nunca para os
eliminar. Sua atuação nunca poderá ter em vista a supressão das
características nacionais de alma e cultura, mas antes, na medida do
possível, seu robustecimento. Precisamente como no Sacro Império Romano
Alemão, em que cada nação podia desenvolver-se, dentro da órbita dos
interesses legítimos e comuns da Cristandade, segundo a sua índole
peculiar, sua capacidade, suas condições ambientes etc.
“De
outro lado, a estruturação econômica não deve chegar a um planejamento
tal, que implique numa super-socialisação. Se o socialismo é um mal, sua
transposição para o plano superestatal não poderá deixar de ser um mal
ainda maior.
“No
Sacro Império — todo penetrado de feudalismo, de regionalismo sadio, de
autonomismo municipal, do autonomismo grupal das corporações,
Universidades etc. — tal perigo só começou a se infiltrar quando
apareceu, com os legistas, a semente do socialismo hodierno. Mas os
legistas foram sempre uma excrescência na Cristandade, e sua influência
coincidiu precisamente com o declínio do verdadeiro ideal cristão do
Estado.
“Por
fim, permita-se-nos uma afirmação bem franca. Nenhuma sociedade, seja
ela doméstica, profissional, recreativa, seja ela Estado, Federação de
Estados, ou Império mundial pode produzir frutos estáveis e duráveis se
ignorar oficialmente o Homem Deus, a Redenção, o Evangelho, a Lei de
Deus, a Santa Igreja, e o Papado. Ocasionalmente, podem alguns de seus
frutos ser bons. Mas se forem bons não serão duráveis e, se forem maus,
quanto mais duráveis tanto mais nocivos.
“Se
a Federação Europeia se colocasse à sombra da Igreja, fosse inspirada,
animada, vivificada por Ela, o que não se poderia esperar? Mas,
ignorando a Igreja como Corpo Místico de Cristo, o que esperar dela?
“Sim,
o que esperar dela? Alguns frutos bons, que convém notar e proteger de
todos os modos, sem dúvida. Mas como é fundado esperar também outros
frutos! E se estes frutos forem amargos, quanto se pode temer que nos
aproximemos assim da República Universal, cuja realização a maçonaria há
tantos séculos prepara?”.
(*) Paulo Roberto Campos é jornalista e colaborador da Abim
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