sábado, 9 de janeiro de 2016

A DOR DE UMA PERDA

 
Jorge Bengochea para ORDEM, JUSTIÇA E LIBERDADE
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A DOR DE UMA PERDA PARA O CRIME...
ZERO HORA. Por: Jaqueline Orgler Sordi 09/01/2016 - 05h51min - A cena ocorreu em um evento da prefeitura. Na manhã de quinta-feira, em frente ao Paço Municipal, autoridades se concentravam para uma coletiva de imprensa. Jornalistas e curiosos se reuniam para ouvir as novidades. A alguns passos dali, um homem, pés descalços, calção sujo, costelas à mostra e barba malfeita, caminhava em direção ao evento.
Deveria ser apenas mais um curioso. Lentamente, estendeu um pequeno tapete amarelado e sentou-se na escadaria do prédio. Mal pôde acomodar o fraco quadril no chão. Agentes da EPTC apareceram e solicitaram — ou exigiram — imediatamente a sua retirada.
Não cabia o contraste. Sem se dar conta, ele havia sentado em um local estratégico. Apareceria na foto, ao lado das autoridades, que naquele dia divulgavam e comemoravam uma redução histórica no número de mortes no trânsito da Capital.(...)
Este homem, calção sujo, costelas à mostra e pés descalços, chama-se Nei da Cunha, 44 anos. Motorista aposentado, há quatro vive na rua. Saiu de casa e foi sobreviver como uma "folha seca, que é levada pelo vento", por não aguentar a dor de perder um filho. Anos antes, o jovem, que recém comprara um carro, foi vítima de um assalto, em Porto Alegre. Tentou reagir e foi morto. A lembrança traz lágrimas aos olhos do morador de rua, que não se contém e grita por ajuda. Uma ajuda para sua alma. Muito mais que para seu corpo. Os gritos, entretanto, são imediatamente silenciados pela indiferença dos demais. Estes estão concentrados em aplaudir os balões brancos soltos pela prefeitura em comemoração às vidas salvas no trânsito. Ironia? Talvez. E da pior espécie.
Repórter Zero Hora
zh.clicrbs.com.br

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