quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

CLIPPING DE QUARTA-FEIRA, 03 DE FEVEREIRO DE 2016






                                                     ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
 BRIGADA MILITAR - ESTADO MAIOR
P M - 5

          CLIPPING DE QUARTA-FEIRA,

 03 DE FEVEREIRO DE 2016

  


ANA LUISA APELOU PELO FILHO QUE VAI NASCER (POLITICA +, COLUNA DE ROSANE DE OLIVEIRA, PÁGINA 9) Cinco dias antes de sentir a ponta de uma faca encostada em sua barriga, a psicóloga Ana Luísa Dornel, 42 anos, recebeu a confirmação de que estava grávida do primeiro filho. Era 21 de dezembro de 2015, 13h10min de uma tarde nublada. No estacionamento do Supermercado Nacional da Assis Brasil, próximo ao Triângulo, em Porto Alegre, ela colocava as compras no porta-malas do Fox Vermelho, com placas de Dois Irmãos, quando ouviu uma voz masculina às suas costas: “Posso ajudar?”  “Não, obrigada”. O homem encostou uma faca na barriga de Ana Luísa e anunciou: “Fica quieta, que é um assalto. Entra no carro senão te mato”. Ana Luísa pensou no bebê e obedeceu. Sentou no banco do carona e achou que era o fim. Lembrou da jovem Dóris Terra Silva, assassinada na véspera em São Francisco de Paula, por um homem que a abordara também em um supermercado. Ana Luísa pediu a Deus que não deixasse sua mãe, de 80 anos, sofrer. O homem, que aparentava ter entre 28 e 30 anos, usava óculos escuros do tipo “gatinho”, camiseta branca e bermuda, atrapalhou-se com o câmbio automático do Fox e pediu que ela ensinasse como engatar a ré. Ana Luísa ensinou. O ladrão arrancou e prosseguiu com as ameaças: “Se gritar, te mato. Eu te mato”. “Por favor, não faça nada comigo, que estou grávida” implorou a psicóloga. O homem andou mais duas quadras e disse que iria deixá-la descer. “Desça sem fazer alarde. Se gritar, te mato. Eu te mato”, advertiu. Antes de descer, ela ainda conseguiu pedir para levar dois molhos de chave, um pen drive e o cartão de entrada na Unisinos, onde faz mestrado. O ladrão consentiu. Ela fez menção de pegar no banco de trás o envelope que continha o resultado positivo do teste de gravidez e as requisições para o pré-natal, mas o bandido impediu: “Não vai levar mais nada. Desce e não grita, senão eu te mato”. Cambaleando, Ana Luísa desceu. Esperou que ele arrancasse e saiu correndo e chorando. Duas quadras adiante, deparou com uma unidade do POE, o Pelotão de Operações Especiais da Brigada Militar, e contou que tinha sido assaltada. O sargento de plantão a acolheu, ofereceu água e um telefone para avisar a família, mas ela não conseguia lembrar o número de ninguém. Lembrou do telefone do trabalho do marido, mas tudo o que conseguiu foi pedir que ele cancelasse o cartão do banco. Intrigado, o marido ligou de volta e foi atendido pelo sargento. Mais de um mês depois, o carro ainda não foi encontrado. Para poder trabalhar, Ana Luísa passou a vir para Porto Alegre de ônibus de Dois Irmãos. Anda sempre sobressaltada. Se um estranho lhe dirige a palavra na rua, corre. No Ano-Novo, estava no estacionamento de um supermercado na praia com o marido quando um homem se aproximou e disse alguma coisa. Ela começou a gritar e saiu correndo, certa de que era um assalto. Não era. O sujeito queria apenas usar o carrinho que o casal acabara de liberar. “Não sei mais o que fazer. Ficar em casa não dá, preciso trabalhar. Não há lugar seguro. É o caos, um horror. Não vou a nenhum lugar que tenha estacionamento, morro de medo. Vai levar um tempo para me recuperar”, desabafa. No dia de Natal, ela perguntou à mãe: “Onde estava meu anjo da guarda?”  “Ao lado do ladrão, para ele não te esfaquear e te deixar ir” respondeu a mãe. Com 12 semanas de gravidez, Ana Luísa espera que o anjo proteja o bebê que vai nascer em agosto. Se for menino, vai se chamar Pedro. Se for menina, Heloísa.

SENSAÇÃO NO MEIO RURAL É DE DESAMPARO (CAMPO ABERTO, COLUNA DE GISELE LOEBLEIN, PÁGINA 17) As longas distâncias dos centros urbanos, as áreas retiradas e, por vezes, vizinhos afastados são elementos que tornam o produtor uma presa fácil para a ação de criminosos. Uma das maiores chagas enfrentadas no campo é o abigeato - furto de animais. As estatísticas de 2015 ainda estão sendo consolidadas. No primeiro semestre, esse tipo de crime havia crescido 19%, somando 3.976 casos, ante 3.342 registros do mesmo período do ano anterior. “Até setembro, a tendência era de alta. Nos últimos quatro anos, os números vinham subindo. O contingente do efetivo, o avanço do desemprego e a impunidade são fatores que contribuem para isso”, avalia o tenente-coronel Rogério Martins Xavier, coordenador do Comitê de Prevenção ao Abigeato e à Carne Clandestina do Estado. O grupo reúne, além da polícia, técnicos das áreas tributária e sanitária, em um esforço conjunto para barrar a ação dos bandidos, que encontram na rede de abates clandestinos o alimento para o crime. No ano passado, o governo do Estado criou também as unidades especializadas de fronteira, equipes volantes voltadas ao atendimento de 197 municípios dessa região. São formadas por integrantes da Brigada Militar (com 50 policiais militares), coordenadoria da Polícia Civil (com cinco policiais) e do Instituto Geral de Perícias. De novembro a dezembro, houve treinamento de preparação, incluindo as patrulhas rurais. “Trabalhamos com a perspectiva de redução dos números. Os resultados dessas ações coordenadas devem começar a aparecer a partir do segundo semestre”, estima o tenente-coronel Xavier. No tradicional balanço do final de ano, o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Sperotto, ao avaliar o governo de José Ivo Sartori deu nota 8, “com exceção da segurança”: “Mantenho a avaliação. Não estamos sentindo uma ação forte”. O abigeato não é o único crime registrado no meio rural. Há ainda furtos de produtos agrícolas e assaltos às propriedades, que assustam agricultores e engrossam as estatísticas.

ALVIM LÚCIO FARIAS

Pecuarista em Hulha Negra, na Campanha

Participei de uma pescaria e, quando retornei à propriedade, há 10 dias, meu funcionário avisou que haviam sumido seis bois. Foram levados de um potreiro mais retirado. Cortaram os argolões para abrir a porteira. Usaram uma tesoura e depois passaram arame em volta para não deixar a porteira caída. Não é a primeira vez que tenho problema de furto. Estamos desamparados. O contingente policial é pequeno e, às vezes, falta combustível. Muitas vezes, o pessoal do sindicato rural paga o combustível. Entre os produtores, sempre que vemos um carro estranho parado na estrada, nos comunicamos.

MÁRCIA MUNDSTOCK

Pecuarista e produtora de grãos em Manoel Viana, na Fronteira Oeste

Entraram na propriedade na madrugada, enquanto estávamos dormindo. Levaram produtos para o tratamento de sementes, inseticidas, fungicidas, material de trabalho, bateria de pulverizador. Aquilo desestruturou bastante o ciclo da safra. Em um vizinho, que planta milho, também levaram insumos. A gente se sente impotente. E, no campo, fica ainda mais isolado. Colocamos um sistema de alarme simples. Tentamos o monitoramento de câmeras, 24 horas, mas esbarramos na dificuldade da telefonia móvel.





LEONARDO TEIXEIRA CHIAPPETTA

Pecuarista e produtor de grãos em São Gabriel, na Fronteira Oeste

De dezembro para cá, tivemos 70 animais furtados. Foram bois, fêmeas e um touro. Na nossa localidade, no distrito de Vila Suspiro, há anos ocorre o abigeato. Eram mais ovinos. De um ano para cá, começou também o furto de bovinos. Não tem dia, não tem hora. Simplesmente ninguém sabe, ninguém viu. Tive apoio das autoridades e amenizou um pouco. Mas no que acalmam as operações da polícia, os ladrões recomeçam. Me sinto impotente, sem capacidade de agir por não saber quem são. É uma situação desagradável e não tem fim.

“SOMOS REFÉNS DOS BANDIDOS” (PÁGINA 19) A família do aposentado Antônio Carlos Grandini Dias, 64 anos, é marcada pela violência. Em 2012, ele foi assaltado, e o carro, roubado. Teve um revólver apontado para o peito. Dois anos depois, foi a vez da irmã sofrer o mesmo e ter o veículo levado pelos bandidos. Mais uma vez, a vida foi poupada. O pior viria este ano. Irmã mais nova de Antônio Carlos, a contadora Isabel Cristina Grandini Dias, 47 anos, foi morta com um tiro em uma tentativa de assalto no dia 11 de janeiro. Revoltado pela falta de segurança, clama para que o poder público aja de alguma forma para conter a escalada da criminalidade no Estado.

Como foram esses três episódios de violência na sua família?

O primeiro aconteceu em maio de 2012, comigo. Estava na Avenida Nova York, no bairro Floresta, e tive meu carro roubado por dois elementos. O segundo foi com a minha irmã, em maio de 2014. E o fatal aconteceu com outra irmã, dia 11 de janeiro. Ela foi abordada por três elementos. Não levaram o carro, mas levaram o bem maior, a vida dela. A Isabel tinha uma cachorra, que estava com um problema, e foi levá-la para a minha filha, que é veterinária. Mas ela se antecipou e acabou chegando antes, pouco depois das 22h. Nesse meio tempo, chegou um carro, com três elementos, que cortaram a frente dela. Ela se assustou, ficou com uma das mãos na direção e a outra como se estivesse tirando o cinto de segurança. E a pessoa, não sei se assustada, deu um tiro. Acertou a cabeça. Minha filha chegou 10 minutos depois e encontrou a tia morta.

E o que isso mudou na rotina de vocês?

A família está enlutada, em um momento de tristeza. Estamos alertando todas as pessoas do nosso círculo de amizade para terem o maior cuidado na hora de sair, em andar na rua, porque infelizmente estamos sem nenhuma proteção da segurança pública.

Quando o senhor sai à rua, como se sente?

O que aconteceu com a minha irmã foi muito violento. E, a partir daí, estamos com medo. Uma insegurança geral. Estamos tentando digerir. Todo mundo chocado. Era uma pessoa muito querida na família, fazia trabalhos sociais, cuidava de animais para todo mundo. Foi simplesmente tirada do nosso meio em cinco, sete segundos. Eram 47 anos de uma vida ilibada.

Qual é a sua impressão da escalada da criminalidade no RS?

A violência é muito grande. A gente vê em todos os jornais, meios de comunicação, que os bandidos estão à solta. A legislação é muito branda. Todos estão armados e o cidadão de bem não usa armas. Eles chegam na tua casa, te afrontam, te abordam no carro, fazem arrastão em restaurante, estouram máquinas de dinheiro nos bancos. A insegurança é geral. O poder público tem de fazer alguma coisa. Sabemos que há uma defasagem de pessoas (na Brigada e na Polícia Civil), mas não podemos ficar apenas com esta resposta.

Como o senhor vê, nos últimos anos, o trabalho de autoridades em frear a criminalidade?

Acho pouco o trabalho que estão fazendo porque sempre alegam falta de recursos. Até entendo isso. Mas enquanto esses crimes, esses assaltos, não chegarem nos comandantes, a tomada de decisões será branda. Falam muito, mas não vejo atitude. O meu grito em relação à falta de segurança é para que evitem que outras famílias sofram como estamos sofrendo.

Quais são as causas, na visão do senhor?

As leis são muito brandas. E também tem um crescimento (da criminalidade) que é proporcionado por esta liberdade da legislação no sentido de permitir que pessoas que traficam, usam drogas, estejam à solta. O poder público tem perda de efetivo, até por aposentadoria, e não existe reposição.

O senhor considera que há inversão de papéis, com a população encarcerada e os bandidos em liberdade?

Infelizmente, somos reféns dos bandidos. Eles sabem que a legislação é branda. Sabem que praticam o crime e logo depois vão estar de volta às ruas. E nós, cidadãos de bem, ficamos gradeados. Alguns que podem ter carro blindado ou segurança pessoal, como algumas autoridades, ficam mais tranquilos. Mas o cidadão de bem que está em um ônibus, que pega um lotação, que vai num teatro, num restaurante, não tem tranquilidade.

PM É FERIDO, E HOMEM, MORTO EM ABORDAGEM (PÁGINA 20) Um homem não identificado morreu em um HB20 roubado, após um confronto com a Brigada Militar, na madrugada de ontem, na zona norte da Capital. Outro suspeito ainda não foi encontrado. A ocorrência teve início na Rua Germano Petersen Júnior, no bairro Auxiliadora. Por volta das 5h, uma guarnição do 11º BPM deparou com um HB20 preto, com dois homens em atitude suspeita. Ao consultarem a situação do veículo, policiais constataram que havia sido roubado horas antes. A pé, um dos PMs tentou abordar os ocupantes do carro. Ao perceber sua aproximação, o motorista do HB20 propositalmente o atropelou. Outro policial atirou contra o carro, acertando o lado direito do para-brisas. Com lesões nos braços e pernas, o PM atropelado foi socorrido e levado ao HPS. Enquanto isso, em outra viatura, brigadianos saíram em perseguição ao HB20, que seguiu em direção à área central da cidade. Nas proximidades do Parque Moinhos de Vento, os policiais o perderam de vista. No início da manhã, um morador do bairro Rio Branco ligou para avisar a BM que um HB20 com marcas de tiros havia sido abandonado na Rua Pedro Weingartner, próximo à esquina com a Rua Castro Alves. No local, a polícia constatou que era o mesmo carro envolvido na ocorrência com a Brigada Militar e que um dos homens estava morto no banco do carona. PORTO ALEGRE

VALOR RELATIVO (EDITORIAL, PÁGINA 22) A Secretaria de Segurança Pública divulgou nesta semana números parciais (e convenientes para o governo) sobre a violência e a criminalidade no Estado, na tentativa de convencer a população de que a situação está melhorando. A divulgação mostra redução de homicídios dolosos e de furtos na relação com o mesmo período do ano passado, mas omite informações sobre outros delitos, como latrocínio e roubo de veículos. Ficou a impressão de que os dados oficiais obedecem à estratégia de um antigo ministro da Fazenda, que perdeu o cargo depois de deixar escapar a célebre frase: “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”. É um equívoco agir assim, especialmente no momento em que o governo, em meio a uma evidente crise na segurança, ensaia ações concretas para combater a criminalidade. São visíveis – e dignas de reconhecimento – operações como a intensificação de barreiras policiais nas ruas da Capital e decisões administrativas como o pagamento de horas extras para policiais durante o Carnaval. Quando o governo responde com ações concretas, a população reconhece. Mas números incompletos só suscitam mais dúvidas. Enquanto esses números contrastarem com a realidade dos homicídios, assaltos e arrombamentos, não haverá contabilidade criativa que atenue a sensação de insegurança dos gaúchos. O que as pessoas querem ver é policiamento ostensivo inibindo os criminosos, retirada de circulação dos delinquentes e garantias de que todos podem circular livremente sem correr risco de vida. Se isso ocorrer, o balanço estatístico certamente será favorável – e confiável.



                                   

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