Quem se demite: a colega da RBS ou eu?
Proponho um desafio público a uma graciosa colega, amiga antiga e merecedora de todo meu respeito profissional pela trajetória na RBS, especialmente na escalada sem amparo da bengala de nenhum senador.
Se ela provar que o deputado Adão Villaverde sabia que doações de sua campanha eleitoral provinham de dinheiro de corrupção na Petrobras, sujeitando-o a uma condenação indesmentível, eu me demito imediatamente da sua assessoria. Não poderei continuar trabalhando se perder a confiança no parlamentar porque sou movido pela lealdade que advém da crença na honestidade.
Agora se a Justiça comprovar desvios ilegais da fonte pagadora da colega e a RBS for condenada pela Operação Zelotes, que investiga sonegação de tributos (e onde a empresa foi arrolada), sugiro que, por decência pessoal e respeito aos leitores, a jornalista deva pedir as contas ao Duda Sirotsky Melzer, presidente da rede que faturou R$ 1, 4 bilhão no ano passado.
É só uma sugestão. Não me venham com censura ou cerceamento da liberdade de expressão, como sempre apelam os empresários e seus sabujos quando se propõe democratização da mídia.
É uma aposta extremamente vantajosa para ela.
Villaverde é apenas um professor universitário e engenheiro que está deputado por períodos renovados de quatro anos, mas voltará a viver do seu trabalho assalariado, como ocorre desde que iniciou a carreira profissional em Porto Alegre que acolheu o estudante alegretense filho de pais modestos.
Já Duda é da terceira geração de milionários poderosos que há mais de meio século dominam os meios de comunicação do estado, depois de recuarem abaixo do Mampituba, desistindo das terras catarinas e vendendo ativos ao cônjuge violento da modelo Luiza Brunet.
Quem tem influência maior e mais duradoura, especialmente se voltarem os tempos de proteção aos colarinhos brancos, como tentam retroceder no país, até mesmo no engavetamento do pacote anticorrupção de Dilma?
Em meu trabalho falo com o deputado, diariamente, exercendo também a crítica obrigatória que minha função impõe na dinâmica da comunicação nas nossas relações em sociedade. Não preciso bajular nem sorrir rutilantemente diante de um rico herdeiro sempre paparicado pelos subalternos, mas tão gente boa…
– Nada de senhor nem doutor, me chama pelo apelido de família, colega.
Não caia nesta; patrão nunca é colega. E advirto: não adianta absolutamente nada transbordar vassalagem.
Veja o exemplo da tua veterana colega da RBS TV que esbraveja, atualmente, lamentando não entender sua carta de demissão “após 31 anos, um mês e um dia”, contadinhos de dedicação à empresa. “Nem um estagiário deve ser demitido assim”, desabafa ela, no site da coletiva.net, confessando-se chocada e aparentemente sem compreender que é mesmo, sim, tão descartável quanto um estagiário.
Cadê o professor Ruy Carlos Ostermann, Lauro Quadros, Ricardo Stefanelli, Mauro Boró Toralles, Carlos Wagner, Alexandre Bach, Cagê, José Aldo, Rogério Mendelski, José Barrionuevo que eram agraciados com tanta meiguice e cumulados de alegres tapinhas nas costas ?
Foram simplesmente demitidos ou ironicamente convidados à aposentadoria, com a gratidão efêmera pelos serviços prestados.
Isso sem contar os que foram forçados a sair para não violentar a honra biográfica, como Moisés Mendes.
Todos úteis e brilhantes – até serem sonoramente descartados.
Ainda que com o complemento salarial do RBS Prev, foram escanteados como estagiários sem maiores ligações com a firma.
Ao menos a ex- senhora da TV não terá problemas financeiros pois acumula, há muito tempo, um cargo público de alto salário como aposentada da Assembleia Legislativa paga pelo erário de nós todos.
Mas e outros colegas menos midiatizados que passaram quase a vida inteira fidelizados à empresa e que levam o pontapé nos glúteos encaminhando-os para a rua da amargura de um mercadinho de trabalho cada vez mais estreito ?
Mas o que justifica, mesmo, o desafio inicial, afinal?
Nós profissionais da comunicação, jornalistas e assessores, temos todos que cumprir a mesma obrigação do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.
Vale para mim, assessor, a perseguição à verdade possível, embora saibamos que não existe isenção absoluta nos seres humanos.
Vale para ela, jornalista de empresa, também informar com correção e responsabilidade, que considere até que ponto vale a pena macular, sem provas, a integridade de uma pessoa, sua família e colaboradores.
Desprezando a ética aplicada, dos códigos, Claudio Abramo dizia, porém, que temos todos apenas uma mesma e única ética cidadã.
No ambiente político de bizarros valores naturalizados como rotineiros, a colega referida vincula, claramente, em notas publicadas no dia 5 de julho em Zero Hora, doações da campanha de Villaverde ao dinheiro extraído da Petrobras, chamado de propina em caudalosa abordagem que inicia na manchete principal de capa do diário, e consolida-se em editorial, colunas políticas e até mesmo em charge.
Logo, é obvio ululante que a coleguinha aproxima o nome do deputado estadual do PT da corrupção, que contamina a edição, estendendo-se grandiloquente e redundante nas páginas 6, 7, 8, 18 e 19. Assim, por lógica decorrência ao alcance da percepção de uma criança, concede a Villaverde, gratuitamente, a pecha de corrupto.
Porque não existe meia corrupção, nem meio corrupto, como poderia relativizar a defesa da jornalista, argumentando pela ligação indireta da doação com desvio do caixa da estatal de petróleo.
Não, não há sutilezas. A ilação é direta e retumbante.
Além de tudo, Villaverde sequer foi consultado pela jornalista para saber sua versão antes da exposição pública de seu nome. Desde a faculdade de Jornalismo em tenra adultez, futuros jornalistas aprendem que a ação adequada do profissional é ouvir os dois lados. Ou mesmo, no caso, o ‘outro lado’.
Como ela e eu, quem atua no meio político sabe, de sobra, o quanto uma citação negativa deste tipo prejudica a imagem de um homem público no qual seus eleitores depositaram a inteira credulidade do voto de representação.
Este tipo de jornalismo malicioso, sem comprovantes do que acusa, exala o forte mau cheiro da parcialidade ideológica que escamoteia a pregação do pensamento de direita, não por acaso representado, na cena atual, pelos golpistas comandados por Temer, Cunha e asseclas cúmplices na usurpação do poder outorgado, nas urnas democráticas, pela maioria do povo, à presidenta Dilma.
Este jornalismo é, por ambiguidade natural, seletivo.
E é fortemente estimulado pelo cenário de latente estado de exceção que vigora no país golpeado pelo maior ataque à Constituição já ocorrido desde a redemocratização.
Os advogados criminalistas brasileiros, em recente Carta de Curitiba, redigida após encontro realizado no solo da dita “república do Paraná”, alertaram, mais uma vez, para os graves perigos deste estado jurídico excepcional em que a delação virou a rainha das provas e suspeitos são torturados com pressão psicológica do encarceramento incomunicável antecipado, sem condenação alguma.
A quem acusa ou insinua cabe o ônus da apresentação de provas.
Daí deriva a presunção da inocência, valor incalculável da prática democrática, que se perde a cada dia no Brasil.
É disto que trata especificamente o artigo 9, do capitulo III (Da responsabilidade profissional do jornalista), do Código de Ética dos Jornalistas:
“A presunção da inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística”.
Infelizmente não é a regra seguida por boa parte da chamada ‘grande mídia’, cuja adjetivação corresponde somente ao poderio financeiro empresarial que ostenta.
Assim, estou aguardando para ver quem de nós dois vai pegar o bonezinho e tomar o rumo de casa.
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André Pereira é jornalista.Cupons de desconto: Morena Rosa, Youcom, Netshoes, Ray ban, Extra, Connect parts, Ponto-frio, Dinda, Lojas Rede.
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