quinta-feira, 26 de maio de 2016

Preocupados com o seu fígado, rim e coração, os médicos esquecem dela, da sua boca

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Jolivi
Sua Saúde Natural
 
 
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Preocupados com o seu fígado, rim e coração, os médicos esquecem dela, da sua boca


Fernanda Aranda , Editora-Chefe


FIQUE POR DENTRO
 
Um relatório encomendado pelo governo britânico e divulgado na última semana denunciou a possibilidade do surgimento de novas superbactérias resistentes aos antibióticos em um futuro próximo.
Na publicação, os pesquisadores preveem que, se algumas medidas não forem tomadas imediatamente, estas superbactérias poderão matar uma pessoa a cada três segundos em 2050.
Entre essas medidas, eles defendem uma revolução na forma como os antibióticos são usados e uma grande campanha para educar as pessoas.
Um dos principais problemas envolvidos no excesso do uso de antibióticos é a automedicação, e falamos sobre os perigos desta prática durante o Café com Saúde com o toxicologista e assessor da Organização Mundial da Saúde ( OMS), Anthony Wong. Veja aqui.
 

Para o coração, ressonância magnética
Para o rim, ultrassom
Para o fígado, exame de sangue
Para a dor, raio-X
E para o que diz a minha boca, doutor, você indicará os seus ouvidos?

Sabe, fico pensando que a medicina hoje vivencia um período conturbado. E quando a gente vai discutir como melhorar a saúde, sempre falamos em dinheiro.

Em suma, a receita mágica que aparece como salvadora do nosso sistema é composta por: verba + tecnologia.

Este é um erro de gestão que, conforme explicou o nosso consultor Dr. Leonardo Aguiar,  começa na sua casa e é repetido em todos os hospitais (públicos e privados).

Foi por isso que quando conheci trabalho da médica mineira, Júlia Rocha, tive a certeza de que estamos fazendo tudo errado.

Falamos muito em cifras e investimentos para tirar a saúde da UTI, mas nunca tocamos em desperdício e falta de propósito.

Julia – que atua em uma unidade pública de medicina e comunidade no Rio de Janeiro, no postinho, na periferia e no “pobre” Sistema Único de Saúde ( SUS) – oferece diariamente em suas redes sociais uma verdadeira aula de economia.

Isso porque, os seus relatos, que chegam alcançar 50 mil seguidores no Facebook, mostram o quanto de dinheiro é gasto de forma contraproducente, quando os profissionais da medicina perdem a capacidade de ouvir os seus pacientes.

As consultas robotizadas implicam em uma verdadeira peregrinação por parte do paciente até que sua queixa seja realmente ouvida.

Ouvida de verdade, com atenção, respeito, conexão com a própria história. E neste processo de negligência, todo mundo perde, pacientes, médico e gestores.

Exames desnecessários são feitos e remédios pouco eficientes passam a ser consumidos. O princípio da saúde natural é perdido, e a medicina passa a ser olhada pela lógica da doença.

O fígado fica mais importante do que a trajetória. O estetoscópio escuta o coração, mas as bocas são silenciadas.
Mais recomendações
 
 


Os médicos (uma parte deles, vale dizer) ficam desanimados porque deixam de vivenciar os privilégios do cuidar, do aceitar, do se envolver.

E, antes mesmo de ouvirem o que, de fato, levou os pacientes para seus consultórios, atuam com receituários generalizados, diminuindo as suas chances de transformar a vida de alguém.

Será que tudo isso seria melhorado se a gente só melhorasse a verba e a tecnologia destinada à saúde?

Muito além.

Não, precisamos de mais.

Nesta entrevista feita há algum tempo, o consultor da Organização Mundial de Saúde ( OMS), Anthony Wong, mostrou que é preciso evidenciar, por exemplo, a responsabilidade dos médicos em diminuir os efeitos tóxicos dos medicamentos.

Já Fernanda Ferrairo, uma jovem profissional da medicina, vítima de erro em uma cirurgia da coluna, contou que, por exemplo, é preciso colocar luz em um lado corrompido da saúde.

Dr. Leonardo, ao partilhar a sua vivência como paciente e portador de ansiedade, também definiu que é necessário imediatamente acabar com a divisão corpo/mente na hora de pensar em cuidados.

E com Júlia Rocha, o que aprendi?

Que a boca é a parte principal do corpo humano na hora da consulta. E que o médico pode ter diploma, especialização, consultório chique e tudo mais. Mas se não tiver bons ouvidos, sua única ação será pegar a caneta e assinar o receituário.

Abaixo a entrevista com a “médica de postinho” que está fazendo barulho nas redes sociais e não sucumbiu à necessidade de consultar seus pacientes em apenas 10 minutos.

Espero que goste e, depois, comente lá nas nossas redes sociais.

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JOLIVI: Você, médica, atua em posto de saúde onde é sabido reunir mais carências estruturais e tecnológicas. Digo isso porque, muitas vezes, os médicos justificam a falta de relação e empatia com os pacientes por conta de questões estruturais. Avalia que é uma justificativa completa ou cabem outros pontos? Poderia também descrever se sempre quis atuar em "postinho"? (Meu pai é médico de postinho. Sei do preconceito que sofre por isso).

Júlia Rocha: A relação médico-paciente independe dos recursos que o seu local de trabalho oferece. Inclusive, ela é mais um recurso importante na tentativa de estabelecer um laço terapêutico efetivo. É certo que muitas carências existem e precisam ser solucionadas. E esta é, também, uma atribuição do próprio médico de família: atuar como "advogado" do seu paciente para que ele possa usufruir do seu direito à saúde de forma integral. É válido que se reivindique melhorias para o sistema. Faço isso todos os dias. A questão é que a relação médico-pessoa independe disto e pode, inclusive, ser aberta e clara em relação a essas buscas.

Eu saí da faculdade tendo tido o mínimo contato possível com a Atenção Primária à Saúde. Tudo se resumiu a um estágio no "postinho" da cidade. Nesse período, tive a oportunidade de conhecer uma médica superengajada, comprometida com a situação dos seus pacientes. Achei aquilo muito interessante, mas nem passava pela minha cabeça que havia uma maneira formal de me capacitar para ser “Médica de Família”.

A formação médica das escolas tradicionais no Brasil não fazia questão de contemplar esses aspectos. Eu e meus colegas estudávamos partes de um ser humano. Fígado, coração, coluna, cérebro, bexiga, pâncreas.

Fazer isso durante 6 anos e depois ter que pensar no indivíduo integralmente e ainda levando em conta seu contexto social familiar. Não é nada fácil.

É uma quebra de paradigma que poucos estavam dispostos a fazer.

Ainda bem que isso vem mudando. E esta mudança é o resultado de um processo intenso de debate dentro da academia. As escolas de medicina são historicamente descoladas da sociedade real. Não há representatividade.

São homens e mulheres brancas e ricas se formando cada vez mais especialistas em pequenas partes do corpo. Não é, definitivamente, o que as pessoas precisam. Eu saí desta universidade branca e elitista.

Durante os 6 anos de graduação, eu passava em cada estágio e falava que queria fazer aquilo. Foram diversas mudanças durante o curso: pediatria, ginecologia e obstetrícia, clínica médica... Até que vi que dava pra ser médica de mulheres, homens, crianças, idosos, gestantes, bebês, sem precisar escolher ou preterir ninguém. Foi quando me encontrei e decidi!

A escolha da medicina foi muito influenciada pela paixão do meu pai por esta profissão. Ele é médico cirurgião.

Jolivi: Foi no Facebook que eu te conheci e vejo que os seus posts têm muita repercussão e identificação por parte dos internautas. Como começou a usar as redes sociais para falar da sua rotina? Avalia que escrever sobre isso te ajuda como a ser uma melhor profissional?

Júlia Rocha: Eu comecei escrevendo sobre meus atendimentos como médica residente. As coisas foram saindo do controle quando algumas postagens atingiram números absurdos de visualizações: 40 mil, 25 mil. Mas eu continuo a escrever do mesmo jeito. Sem maiores ambições. É claro que, com o interesse de tantas pessoas, a responsabilidade aumenta.

Eu escrevo somente sobre casos reais. Fatos que vivi ou presenciei. Talvez, isso passe uma verdade e faça com que as pessoas se identifiquem. Além disso, nos meus relatos, eu não estou preocupada em falar sobre questões técnicas que só interessariam aos profissionais da área da saúde. Minha ideia é falar de humanidade. De como o dia a dia do médico de família pode ser um pouco menos árduo e até um pouco mais doce se tivermos um olhar mais empático e buscarmos enxergar a humanidade das pessoas que nos procuram.

Escrever os relatos me ajuda, sim. Acabou se tornando uma válvula de escape. Um canal para dividir sofrimentos e alegrias.

Jolivi: Vivemos em um tempo em que a prescrição do remédio é o ponto alto e principal da consulta. De alguma forma, todas as nossas relações, inclusive as pessoais, estão muito medicalizadas. Com isso, qual é o principal dano para o paciente? E para o médico?

Júlia Rocha: Creio que o principal dano é a criação de uma relação desigual de poder entre o médico, que está colocado no lugar do grande detentor do conhecimento e daquele que deve agir para "normalizar" algo que está "anormal" em seu paciente.

Perde também o próprio paciente, que deveria ser o centro do seu próprio cuidado e é colocado à margem para receber passivamente a ordem de seu médico.

O paciente perde uma grande oportunidade de elaborar melhor seus sintomas, conhecer seu próprio corpo e suas emoções e tomar partido de suas questões de saúde.

O médico, por sua vez, coloca-se em uma situação extremamente perigosa. Um pedestal de dono da verdade onde não é permitido o erro. E nós erramos! Todos os dias nós erramos. O erro é inerente à prática médica. Não é a exceção. É a regra. O corpo humano, a mente humana... nada disso é exato. Há mil interpretações para um mesmo sinal ou sintoma. Como não errar? Impossível.

Jolivi: Gostaria que, por favor, descrevesse uma passagem com paciente que marcou muito a forma como você escolheu atuar na medicina. Poderia?

Júlia Rocha: Uma paciente que marcou muito foi uma senhora de cinquenta e poucos anos que me procurou por causa de uma dor no ombro.

Era uma dor intensa que a acompanhava há vários anos. Já havia feito de tudo. Fisioterapia, cirurgia, acupuntura. Já havia feito ultrassom, ressonância magnética... enfim. Tudo que a medicina tradicional poderia fazer por ela já havia sido feito. Era um dia de muito movimento no centro de saúde e eu tinha muitos pacientes aguardando atendimento.

Eu já havia percebido uma tristeza no rosto dela desde o início da consulta. Foi quando resolvi perguntar se era só a dor no ombro que estava lhe incomodando. Ela começou a chorar muito e me contou que naquele dia estava fazendo 2 anos que a filha dela havia sido assassinada pelo marido.

Foi tão intenso poder dividir aquela história com ela e, ao mesmo tempo, tão revelador, tão transformador para a minha prática como médica entender que, o que ela queria era apenas um ombro. Um ombro.

Depois deste encontro as coisas começaram a acontecer e até suas dores físicas tiveram alívio.

Jolivi: Por fim, gostaria que falasse qual é a principal lição que o médico pode aprender com seu paciente. E qual é a principal lição que o paciente pode aprender com seu médico?

Júlia Rocha: Vou falar de mim. Do que eu aprendo todos os dias com meus pacientes. Eles são sábios em escutar o próprio corpo.

Se eu dedico 2 minutos da consulta para ouvi-los, já consigo grande parte das informações que preciso para traçar uma estratégia, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento.

Ao compartilhar as decisões com o meu paciente, eu me torno muito mais efetiva nas minhas condutas. Afinal, elas foram construídas, não dentro da minha cabeça, mas em uma conversa onde não há quem manda e quem obedece.

É um encontro de 2 seres humanos. Eu, como médica, tenho um saber. O paciente tem um saber sobre si e sobre seu contexto infinitamente maior que o meu. É uma "mágica" chamada MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA.

 
Na foto acima, está o bilhete que Júlia colocou no receituário dos médicos que trabalham no mesmo local que ela.

Termino a entrevista sabendo que as generalizações, bem me alertou o leitor Eloy V., sempre cometem injustiças.

Aqui na Jolivi cumprimos nosso papel de alertar condutas não muito corretas por parte de alguns profissionais. Mas é bom também dar espaço para quem cumpre o exercício com humanidade.
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