“Coloco esta morte na conta deste governo e vou cobrar”, diz pai de PM santa-mariense morto na Capital
Manifestações de apoio postadas nas
redes sociais levaram o pai do soldado da Brigada Militar, Marlon da
Silva Correa, 29 anos, morto em uma troca de tiros com assaltantes na
Capital, a fazer um desabafo no Facebook.
No começo da manhã desta terça-feira,
enquanto esperava a liberação do corpo do filho no Instituto-Médico
Legal (IML), em Porto Alegre, o pai, Cilon Régis Correa, publicou:
“Ele caiu lutando, defendendo a
sociedade, com honra, bem como o ensinei. Ótimo filho, honesto,
carinhoso, amoroso. O vagabundo puxou o gatilho, incentivado pela
inoperância do Estado diante do caos em que vivemos. Coloco esta morte
na conta deste governo e toda sua cúpula e vou cobrar. Me dói, vou
sentir muita falta, mas te amarei e lembrarei para sempre de ti meu
filho.”
O depoimento revela um misto de
tristeza, dor e revolta que tomou conta do pai e de colegas de farda de
Marlon. Eles apontam a precariedade de equipamentos e veículos da BM e
contestam declarações do comando de que as armas passam por manutenção.
_ Não ocorre manutenção. O modelo que
Marlon usava era defasado. A pistola dele trancou. Não liberou o
projétil que foi deflagrado e acabou alimentando outro, deixando ele
empenhado. Não fosse por este fato, não teria sido morto _ comenta um
policial militar que não quis ter nome divulgado com medo de sofrer
represálias.
Ser policial, era sonho do jovem
Cilon Régis Correa, integrante do
Sindicato dos Municipários de Santa Maria, conta que entrar para a
Brigada Militar sempre foi o desejo do filho. Marlon nasceu em Santa
Maria, estudou e chegou a começar o curso de Direito, mas largou e,
escondido do pai, fez o concurso da BM, em Porto Alegre, onde ingressou
em 2009.
O soldado trabalhou por um tempo no
Presídio Estadual de Jacuí e voltou para Porto Alegre neste ano.
Atualmente, atuava no 20º Batalhão da BM, na Zona Norte.
O dia anterior à morte, Marlon passou
com o pai em Santa Maria. O domingo foi de descontração e de churrasco,
comida preferida do jovem. Ele assumiu o serviço às 6h da segunda-feira.
À noite, durante o atendimento de uma ocorrência, ele o colega foram
avisados por uma pessoa sobre um assalto à loja de materiais esportivos,
perto de onde estavam com a viatura, na Avenida Baltazar de Oliveira
Garcia, no bairro Protásio Alves, zona norte da Capital.
Ao chegar ao local, os policiais
perceberam um homem deixando a loja carregando supostamente os objetos
roubados, e o detiveram. Nesse momento, outros três assaltantes saíram
do estabelecimento atirando. Os soldados revidaram. Marlon teria
acertado um dos bandidos. Em seguida, a arma que ele usava, uma pistola
940mm falhou e ele teria tentado encontrar um local para se abrigar,
quando levou quatro disparos pelas costas. Um deles, na altura do peito,
atingiu colete à prova de balas. Os outros três acertaram o jovem no
pé, no braço e na altura da cintura, perfurando pâncreas, intestino e
veia cava.
Marlon foi socorrido e levado ao
Hospital Cristo Redentor. Segundo o pai, “ele entrou no hospital
caminhando.” Passou por cirurgia, mas teve complicações e uma infecção
generalizada, que o levaram à morte, às 22h desta segunda-feira, uma
semana após ter sido baleado. Ele era casado e tinha uma filha de nove
anos.
O corpo do jovem foi encaminhado ao IML
da Capital no começo da manhã desta terça-feira e deve chegar em Santa
Maria apenas no final da tarde. O velório acontece na capela 3 do
Hospital de Caridade. O sepultamento está marcado para as 11h de
quarta-feira no Cemitério São José.
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