quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Então é Natal




Então é Natal

Amanhã todas as famílias estarão reunidas para a ceia de Natal. Seja ela elaborada de forma fina e pomposa, seja ela com macarrão e salsicha.

Menos a do Airton Machado de Souza, que foi assassinado hoje por bandidos em São Leopoldo. O que dizer para os filhos que viram o pai, o herói, perder a vida?

Menos para a família do soldado Rafael de Avila Oliveira, morto durante uma troca de tiros em Gravataí, região Metropolitana de Porto Alegre. E quem disse "sinto muito" para a esposa e os filhos que não tiveram mais a presença do pai em casa?

Menos a do soldado Marcos Correa Lucas, que perdeu a vida durante um assalto a um supermercado na Zona Norte da Capital do Estado. E como confortar pais, amigos, colegas e a família que perdeu o seu porto seguro?

Menos a do estudante Frederico Colnaghi, morto durante um assalto em São Leopoldo. Sem reagir, não viverá mais um Natal. E quem se importa, quem se lembra?

Menos a da estudante Dóris Terra, assassinada em São Francisco de Paula, durante um roubo. E de que forma acreditar num futuro se um bem material vale uma vida?

Menos tantas centenas ou milhares de famílias que perderam seus entes de forma trágica em cidades violentas, em um Estado em que não se prioriza a vida.

Então é Natal, e enquanto muitos estarão saboreando pratos especiais ao lado daqueles que amam, por perto haverá uma família chorando a dor da ausência. Saboreando a dor da saudade. Degustando o amargo da perda. Sentindo o aperto sem fim. Sem maquiagem, sem roupa de grife, sem pratos elaborados, sem luzes ou pinheiros, sem sonho, sem expectativa, sem certeza de nada. Mas afinal, quem tem certeza de alguma coisa em tempos como o de hoje?

Então é Natal, o espírito é de nascimento, paz, amor, sentimento de leveza, mas o sentimento predominante é o do medo. Da insegurança. Da revolta. Da dor. Porque por mais que tentamos respirar a magia natalina, se torna impossível a cada notícia trágica disparada nos meios virtuais e na mídia. A dor do outro se torna a nossa, até porque não sabemos quando a nossa dor não será a do outro.

Então é Natal, e a torcida é de que 2016 seja menos violento que esse. Seja mais humano e menos mesquinho. O desejo é de que a paz chegue ao coração dessas famílias dilaceradas. O sonho é de que a vida passe a ter valor, a ter cheiro de flores e a ter o brilho das luzes natalinas, para encher os corações de amor.

Então é Natal e pedimos paz... principalmente para a vida das famílias de tantos Airtons, Avilas, Marcos, Fredricos e Dóris espalhados Estado a fora. Histórias constantemente renovadas e esquecidas, na mesma proporção. Desvalorizações de uma sociedade imediatista e desumana.

Sociedade que cultiva mitos, mas não valoriza heróis humanos. Enquanto isso, figurantes dessa sociedade tiram o direito de mais um Natal, de mais um abraço na esposa, nos amigos, na namorada, nos filhos e nos pais de muitos outros personagens da história.

O desejo neste Natal é de Justiça, amor e paz. Que a Justiça não seja cega, não seja branda, seja simplesmente justa, imparcial, firme e puna aqueles que tiraram o direito da vida. Que o amor volte a ser prioridade e volte a unir as pessoas, sem interesse, sem julgamento. Que a paz reine universalmente, que os bens materiais não valham uma vida e que o amor seja a única corrente.

Então é Natal... e sonhar é de graça!

Boa noite.

Texto: Franceli Stefani

Nenhum comentário:

Postar um comentário